terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

JOVENS INFELIZES RECORREM A SEXO E DROGAS, DIZ PESQUISA.


Incidência de comportamento de risco está ligada a insatisfação na escola.

por Redação Galileu


Crianças insatisfeitas com a escola estão mais propensas a se envolver com bebidas,drogas e atividades sexuais. É o que diz uma pesquisa da Universidade John Moores,de Liverpool, na Inglaterra, liderada pelo professor Mark Bellis, do Departamento de Saúde Pública.

O estudo avaliou mais de 3.500 jovens de 11 a 14 anos de idade, de 15 escolas do noroeste do país. Segundo Bellis, crianças com apenas 13 anos já apresentam comportamento de risco.

Durante a pesquisa, foram avaliadas opiniões dos jovens com sobre a vida escolar e em casa, com perguntas abrangendo satisfação com a aparência, relação com os pais e professores, envolvimento com regras, assertividade e remorso.
Editora Globo

As conclusões mostraram que os jovens que não gostavam da escola tinham 2,5 vezes mais chances ter relações sexuais precoces. O risco de uso de álcool também era maior, segundo a pesquisa.
"Nossa pesquisa identifica que é provável que crianças que bebem e são sexualmente ativas estão infelizes com suas vidas na escola e em casa. Os riscos são doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência e acidentes ligados ao abuso do álcool", alertou Bellis.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

CRIATIVIDADE PARANORMAL


Cientistas pesquisam como fantasmas, premonições, sensação de sair de corpo e outras experiências estranhas podem acontecer apenas na nossa cabeça.


É provável que, alguma vez na vida, você tenha sentido que estava sendo observado por um estranho. Talvez no mercado, enquanto andava na calçada, talvez no ônibus. E quando se virou, lá estava o suspeito, olhando. O que você teve foi uma experiência anômala.

Todos formamos uma história a partir de todas as nossas sensações e reflexões. Vivemos a vida não apenas como uma série de ideias e eventos desconexos, mas criamos uma narrativa coerente sobre ela. Quando temos experiências que não se encaixam na narrativa, nossa consciência pode encontrar explicação para esses fenômenos estranhos em forças ou entidades questionáveis. E assim começamos a acreditar no paranormal.


As experiências anômalas vão desde notar um clima estranho na sala até a sensação de estar fora do próprio corpo. E lá vamos nós recorrer a espíritos, sorte, bruxaria, mediunidade, energia vital ou então entidades extraterrestres. Explicações assim costumam ser mais atraentes e intuitivas do que culpar um truque da própria mente.

Quando você está se sentindo desconfortável e se mexe para ver se alguém está olhando na sua direção, por exemplo, esse movimento pode chamar a atenção, o que só confirma suas suspeitas de estar sendo observado.

Outra experiência anômala comum é o déjà vu, relatado por duas entre cada três pessoas. Pesquisadores sugerem que ele representa uma sensação de familiaridade sem uma lembrança específica de por que algo é familiar. Outros acreditam que seja um problema de sincronia no cérebro: os mesmos pensamentos se manifestam duas vezes devido a um pequeno atraso dos neurônios, dando à segunda ocorrência uma sensação de repetição. Algumas pessoas, no entanto, acham que estão vendo uma vida passada.


As experiências anômalas podem estar associadas com estresse, patologias ou déficits cognitivos, mas não são sempre negativas. Elas são apenas tentativas de interpretar uma situação esquisita; afinal de contas, nossas mentes adoram uma boa história. Veja a seguir como a ciência explica alguns dos tipos mais recorrentes de experiências anômalas.


É provável que, alguma vez na vida, você tenha sentido que estava sendo observado por um estranho. Talvez no mercado, enquanto andava na calçada, talvez no ônibus. E quando se virou, lá estava o suspeito, olhando. O que você teve foi uma experiência anômala.

Todos formamos uma história a partir de todas as nossas sensações e reflexões. Vivemos a vida não apenas como uma série de ideias e eventos desconexos, mas criamos uma narrativa coerente sobre ela. Quando temos experiências que não se encaixam na narrativa, nossa consciência pode encontrar explicação para esses fenômenos estranhos em forças ou entidades questionáveis. E assim começamos a acreditar no paranormal. As experiências anômalas vão desde notar um clima estranho na sala até a sensação de estar fora do próprio corpo. E lá vamos nós recorrer a espíritos, sorte, bruxaria, mediunidade, energia vital ou então entidades extraterrestres. 


Explicações assim costumam ser mais atraentes e intuitivas do que culpar um truque da própria mente. Quando você está se sentindo desconfortável e se mexe para ver se alguém está olhando na sua direção, por exemplo, esse movimento pode chamar a atenção, o que só confirma suas suspeitas de estar sendo observado.


Outra experiência anômala comum é o déjà vu, relatado por duas entre cada três pessoas. Pesquisadores sugerem que ele representa uma sensação de familiaridade sem uma lembrança específica de por que algo é familiar. 

Outros acreditam que seja um problema de sincronia no cérebro: os mesmos pensamentos se manifestam duas vezes devido a um pequeno atraso dos neurônios, dando à segunda ocorrência uma sensação de repetição. Algumas pessoas, no entanto, acham que estão vendo uma vida passada.


As experiências anômalas podem estar associadas com estresse, patologias ou déficits cognitivos, mas não são sempre negativas. Elas são apenas tentativas de interpretar uma situação esquisita; afinal de contas, nossas mentes adoram uma boa história. Veja a seguir como a ciência explica alguns dos tipos mais recorrentes de experiências anômalas.



                                                          Espíritos

Em março de 1994, Stephen Young foi a julgamento na Inglaterra pelo assassinato de Harry e Nicola Fuller. O júri chegou ao veredito de culpado no segundo dia de julgamento, mas não antes de consultar o espírito de Harry. Na noite do primeiro dia, quatro juradas improvisaram um tabuleiro Ouija (uma variante do jogo do copo) no quarto de hotel. Fuller — o morto — logo se juntou ao grupo. O espírito contou às quatro que fora assassinado por Stephen Young e que eles deveriam votar culpado. 

“Comecei a chorar e as outras senhoras também ficaram abaladas”, uma jurada revelaria mais tarde. Elas informaram seus achados ao resto do júri na manhã seguinte. Quando o juiz descobriu sobre a sessão espírita, ordenou um novo julgamento. Young foi condenado de novo, mas dessa vez apenas com evidências de testemunhas vivas.

De acordo com o instituto de pesquisa Gallup, 32% da população dos Estados Unidos diz que os espíritos dos mortos podem voltar e 37% acredita em casas mal-assombradas. A maioria desses relatos de encontros paranormais não produz histórias tão emocionantes. 


Em geral, consistem em enxergar um vulto com o canto do olho ou escutar sons estranhos de madrugada, percepções que normalmente podem ser atribuídas a frestas nas paredes, truques de luz ou animais de estimação. Além do mais, quando você acredita que pode ver ou ouvir alguma coisa, seu cérebro fica mais disposto a atender às expectativas e apresentar uma alucinação, especialmente quando está cansado ou assustado.


Uma das evidências mais convincentes alegadas pelas pessoas que dizem ter estado com um espírito é o chamado sentido de presença, a sensação de que alguém está com você, em geral a poucos metros. Pesquisadores dizem que, conforme fomos evoluindo, criamos um sistema para perceber a presença dos outros. Muitas vezes sentimos que alguém está por perto sem reconhecer os sinais que nos deram essa percepção (para testar isso, sente-se ao lado de outra pessoa e feche os olhos). Os cientistas mostram que esse sistema de reconhecimento pode sofrer alucinações em determinadas ocasiões.


É comum essa sensação estranha se manifestar em situações e ambientes extremos, como frio, isolamento e altitudes elevadas, ou quando estamos exaustos, com medo, famintos ou entediados. Alpinistas informam essas alucinações com bastante frequência. 

O explorador irlandês Sir Ernest Shackleton escreveu que, durante uma marcha de 36 horas na Antártida, “muitas vezes me parecia que éramos quatro, não três”, e que seus colegas tinham a mesma “sensação curiosa”. Pesquisas indicam que o medo e a solidão também ampliam essa sensação, nos deixando alertas para intrusos ou companheiros ao redor.


O sentimento de perda também aumenta as chances de receber uma visita espiritual. Manifestações de entes queridos geralmente ocorrem no primeiro ano após sua morte. Há relatos de pessoas que enxergam ou escutam coisas, mas o sentimento mais comum é o de proximidade. 

Em casos problemáticos, ocorre uma sensação de proximidade extrema: na década de 1970, a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross fundou um retiro espiritual em San Diego, na Califórnia. Durante as sessões espíritas, o autoproclamado médium Jay Barham desligava as luzes e fingia ser diversos espíritos para que pudesse fazer sexo com as viúvas. Como uma das vítimas afirmou posteriormente, “eu precisava acreditar”.


Indivíduos neuróticos ou extrovertidos também são mais suscetíveis a supostos contatos. A neurose pode intensificar os elementos do luto, como a ansiedade, enquanto os extrovertidos sentem uma necessidade maior de estabelecer conexões devido ao modo como enfatizam as interações sociais. Quem sofre de epilepsia também relata mais experiências de contato, pois a hiperexcitabilidade presente em partes do seu cérebro (os lobos temporais) pode ativar o sentido de presença. 

Alguns pesquisadores já conseguiram induzir essa mesma sensação de presença ao posicionar ímãs sobre os lobos temporais de indivíduos, levando cientistas a propor que os campos magnéticos da Terra podem ser suficientes para certos lugares darem a sensação de assombrados. O fato da sensação de presença ser mais comum entre quem está de luto sugere que o contato com espíritos pode ser até mesmo uma forma saudável de enfrentar o problema.



                                                        Sair do corpo

Em fevereiro de 2000, Pam Barrett, líder do Novo Partido Democrático, no Canadá, foi ao dentista. Queria fazer uma restauração, mas sofreu uma reação alérgica grave à anestesia. Sua garganta fechou e não conseguia respirar. Ela teve uma experiência de quase-morte (EQM) durante a qual sentiu que abandonava o corpo e olhava para ele de cima. Quando, já na emergência de um hospital, “voltou”, sentiu Deus dando um soco no seu peito e ordenando que seguisse outro caminho. No dia seguinte, convocou uma coletiva de imprensa e se aposentou da política.

Entre 6% e 12% das vítimas de parada cardiorrespiratória relatam uma EQM, mas tais percepções também podem ser resultado de traumas, medo, drogas, ou não terem nenhuma causa óbvia. O que explica o fenômeno dentro do cérebro é ter oxigênio demais ou de menos, dióxido de carbono demais ou falhas no processamento de uma substância chamada glutamato. 

Visões do tipo são descritas há milhares de anos e algumas cenas são comuns em todas as culturas. Em geral, a pessoa escuta um zumbido ou sino enquanto anda por um túnel escuro. Ela vê o próprio corpo, encontra espíritos de entes queridos, tem flashbacks e se sente feliz, mas acaba se afastando da luz e voltando para a Terra.


Muita gente considera as EQMs provas de que há vida após a morte, mas pesquisadores estão encontrando explicações fisiológicas para isso. De acordo com a Ph.D. em psicologia, a inglesa Susan Blackmore (que começou a estudar o fenômeno após passar por uma EQM), o túnel e a luz podem ser consequência da falta de oxigênio no córtex visual. Uma atividade anormal nos lobos temporais do cérebro podem ser as causas de flashbacks. 

A sensação de prazer ocorre devido à liberação de endorfina. Após serem ressuscitados, alguns dizem que observaram os eventos ao seu redor enquanto estavam clinicamente mortos, mas os relatos podem ser resultado de conjecturas posteriores ou até de falsas memórias.


Sair do corpo também é relatado por gente saudável, que não chegou perto da morte. A maioria dos pesquisadores acredita que isso acontece quando não integramos todos os dados que temos sobre nossa localização no espaço: visão, tato, equilíbrio e ideia de posição corporal. Danos ou estímulos elétricos a uma área cerebral que reúne esses sentidos (a junção temporoparietal) poderiam explicar isso. Jason Braithwaite, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, demonstrou que, em indivíduos que vivenciam experiências extracorporais, ondas de atividade cerebral, que podem distorcer as percepções sensoriais, são ativadas com mais facilidade.


Tudo isso não significa que quem passa por essas experiências tem problemas mentais. “Há uma tendência de patologizar experiências incomuns ou religiosas”, diz Willoughby Britton, da Universidade de Brown. “É mais fácil dizer ‘devem ser loucos’. Mas os estilos de enfrentamento positivos desses indivíduos indicam que a saúde mental deles é ótima.”


                                                                                     
                                                          Destino

Alex e Donna Voutsinas folheavam um álbum de família antes de se casarem, em 2002, quando uma foto chamou a atenção. No primeiro plano estava Donna, aos cinco anos, fazendo pose com um dos Sete Anões na Disney. 

Atrás dela, por incrível que pareça, estava o pai de Alex, empurrando um carrinho com — adivinhe — Alex dentro. A família do menino morava no Canadá e visitava os EUA na época, mas os dois só se conheceriam 15 anos depois. Alex ficou assustado quando viu a foto. “Foi mais do que coincidência. Foi destino.”

Praticamente todo mundo ficaria arrepiado numa situação dessas, mas é preciso muito menos — ouvir a mesma palavra nova duas vezes no espaço de uma hora ou encontrar alguém que faz aniversário no mesmo dia — pra parar um instante e dizer “olha só, que coisa!” Isso ocorre quando reconhecemos padrões, uma habilidade (ou compulsão) inerente ao cérebro humano. 

A identificação de padrões permite que interpretemos informações dos sentidos e façamos previsões sobre regularidades (maçãs caem, não flutuam; elas costumam ser saborosas; atirá-las nos outros é irritante).


Encontrar padrões é tão crucial para a sobrevivência que nós os vemos por todas as partes, mesmo em dados aleatórios, um fenômeno conhecido como apofenia. Nós vemos rostos em nuvens e ouvimos mensagens em discos tocados ao contrário. Às vezes essa habilidade foge do nosso controle e faz ligações inesperadas. 

Quando isso acontece, exigimos inconscientemente uma explicação. Só que nosso tipo favorito de explicação envolve agentes, ou seja, seres capazes de ações intencionais — seja uma pessoa, um deus ou um robô. Só que nossa percepção é tendenciosa. Tendemos a sempre culpar um agente por qualquer coisa que não conhecemos, afinal é melhor confundir um galho com uma cobra do que achar que uma cobra é um galho.


O reconhecimento subconsciente de padrões está por trás também da intuição. Pressentir o perigo em uma zona de guerra, “saber” de repente que o marido está pulando a cerca ou que uma amiga está grávida são casos de identificação subconsciente de padrões. 

A maneira repentina como essa percepção se manifesta em nossa consciência pode dar a impressão de que o instinto é clarividência. Ser paranoico (ter propensão a delírios sistematizados) também favorece o reconhecimento desses padrões inexistentes e a crença em teoria da conspiração. O paranoico sempre busca agentes (incluindo agentes secretos) trabalhando contra ele.




                                                      Premonição

Em 1966, ocorreu um desastre na pequena cidade de Aberfan, no País de Gales. Depois de chuvas pesadas, uma avalanche arrasou a cidade, destruindo uma escola e diversas residências. Vinte e oito adultos e 116 crianças morreram. Um psiquiatra chamado J.C. Barker publicou um anúncio em busca de pessoas que haviam tido premonições sobre o evento e recebeu dezenas de cartas relatando sonhos com avalanches, crianças e o nome Aberfan. Os pais de uma das meninas mortas no acidente disseram que ela informou um sonho um dia antes de morrer: “Sonhei que ia à escola e ela não estava mais lá”, a menina dissera. “Uma coisa preta tinha caído por cima dela!”

De acordo com uma pesquisa do Gallup, dois em cada três americanos acreditam em percepção extrassensorial (PES), uma categoria de fenômenos que inclui premonição, visão remota e telepatia. Os cientistas já identificaram as forças psicológicas normalmente envolvidas nisso. Uma delas é nossa atenção seletiva. Você provavelmente pensa bastante sobre seus amigos e eles provavelmente ligam bastante para você. Quando o pensamento e a ligação ocorrem juntos, nós notamos uma coincidência, mas ignoramos todas as vezes nas quais isso não acontece. 

Outro problema é que temos memória imperfeita. O simples fato de imaginar uma experiência passada pode criar a falsa impressão de que ela ocorreu de verdade. O nosso cérebro consegue criar memórias falsas, mesmo depois dos eventos. Assim, lembranças de sonhos “premonitórios” podem ser distorcidas para se adaptar aos eventos que aconteceram.


A psicocinese, ou controle da mente sobre a matéria, também é relacionada à coincidência. Uma série de estudos da Ph.D. em psicologia e professora da Universidade de Princeton Emily Pronin revelou que há uma tendência de as pessoas acreditarem que a mente pode causar alterações físicas — mesmo entre alunos de universidades de elite nos EUA. 

Os universitários acreditavam ter causado a dor de cabeça de um colega ao espetarem agulhas em um boneco vodu e que haviam influenciado o resultado do Super Bowl (final do campeonato de futebol americano) ao assistirem à partida pela televisão e se concentrarem nas jogadas.


Pronin argumenta que a crença nesses fenômenos se vale das mesmas regras básicas que utilizamos para determinar causas em qualquer situação. Se um evento A acontece antes de um evento B, sem que haja outras causas óbvias para B acontecer e desde que A e B sejam conceitos semelhantes, A parece ter causado B. Essa linha de pensamento se aplica automaticamente, mesmo que A seja um mero pensamento.


Como em todas as crenças paranormais, quem não se sente no controle da própria vida tende a acreditar mais na capacidade de prever o futuro, talvez porque aceitar premonições significa achar que o futuro já está determinado e não há como influenciá-lo.


Peter Brugger, diretor de neuropsicologia do Hospital Universitário de Zurique, descobriu que as pessoas com maior probabilidade de vivenciarem a psicocinese e a premonição são aquelas com maior tendência a identificar padrões. 

Elas tendem a enxergar mais palavras em séries de letras piscantes e rostos em imagens embaralhadas e também são mais rápidas para encontrar uma palavra que forme uma ponte conceitual entre outras duas. A experiência de PES exige que o indivíduo antes enxergue uma conexão entre um pensamento e um evento.


Além de ser maior entre indivíduos capazes de reconhecer padrões, a crença em experiências paranormais também se dá mais dentro de um grupo com um traço definido pela psicologia como “busca de novidades e estímulos fortes”. Uma combinação fatal: essas características fazem com que as pessoas tendam a ver mais coincidências estranhas e procurem explicações pouco convencionais para elas.


Dentro da cabeça de quem acredita crer em paranormalidade não tem relação com ser menos inteligente. mas quem passa por traumas de infância, depressão e é mais impulsivo tem mais chances de acreditar. 


Vários fatores estão correlacionados com crenças e experiências paranormais. Um é chamado absorção: pessoas que se perdem na ficção e nas próprias fantasias podem tratar imaginações como sendo especialmente reais. As experiências também são mais presentes em gente com baixa inibição comportamental: indivíduos impulsivos são menos dados a comparar interpretações iniciais de um evento com a realidade. E a susceptibilidade a falsas memórias permite que você distorça experiências para adaptá-las à crença.


Traumas na infância também aumentam a crença na paranormalidade. O psicólogo australiano Harvey Irwin sugere que crianças que têm experiências de falta de controle sobre a própria vida (pais superprotetores, por exemplo) desenvolvem uma necessidade maior por se sentir dominante; a crença na paranormalidade se tornaria uma maneira de dominar eventos anômalos que, de outra forma, reforçariam a falta de controle sobre a percepção. 

Os psicólogos Jennifer Whitson e Adam Galinsky também demonstraram que quando indivíduos saudáveis sentem-se com falta de controle, aumenta a probabilidade de enxergarem imagens em meio ao chuvisco de uma tela, confiarem em rituais supersticiosos e oferecerem explicações conspiratórias para coincidências.


Os crentes não são necessariamente menos inteligentes que céticos. A correlação entre crença e educação e habilidade de raciocínio é fraca ou inexistente. Por outro lado, “há uma correlação fraca, mas consistente, entre crenças na paranormalidade e desadaptação psicológica, incluindo tendências à depressão, mania ou esquizotipia”, diz Chris French, diretor de Pesquisa em Psicologia Anomalística na Universidade de Londres. 

Alguns acham que isso significa que quem acredita em PES ou fantasmas só pode ser louco, mas French diz que isso é simplista demais. “Em certas situações, possuir essas crenças pode ser psicologicamente vantajoso”, explica. Elas podem, por exemplo, representar uma forma de enfrentar problemas.


Quem acredita na paranormalidade também apresenta muitos traços que poderiam (dentro dos limites) ser considerados positivos: são pessoas mais intuitivas, e abertas a experiências. A psicóloga inglesa Susan Blackmore, que era crente e se transformou em cética, conheceu os dois lados da moeda em posição privilegiada. Ela afirma que é a única pessoa a ter participado do conselho executivo da Sociedade de Pesquisas Mediúnicas e do Comitê para a Investigação Científica de Alegações do Paranormal. “Tenho de dizer”, brinca, “que nos congressos dos crentes, as festas são muito melhores.”








segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

MACONHA: A CIÊNCIA DA LEGALIZAÇÃO

Os cientistas estão saindo de seus laboratórios para discutir se a droga deve ser legalizada. Do uso medicinal ao recreativo, saiba o que eles dizem

por Priscilla Santos e Felipe Pontes


Entre o Bem e o Mal
A mais recente compilação de estudos sobre a maconha é um relatório da Beckley Foundation, instituição inglesa que desde 2000 estuda práticas de alterações de consciência e as políticas para regularizá-las, publicado em livro este ano. Em Cannabis Policy - Moving Beyond Stalemate (Política da cannabis - movendo-se além do impasse, ainda sem edição no Brasil), especialistas em saúde pública e criminologia analisaram a relação de custo-benefício da proibição das drogas. A frase inicial de um dos capítulos deixa claro que os autores não negam os riscos médicos da substância, mas questionam se isso justificaria proibi-la. "Nas sociedades modernas, uma descoberta de efeitos adversos não determina o status de legalidade ou não de um produto. Se fosse assim, álcool, automóveis e escadas seriam proibidos." E as justificativas seriam ainda mais contundentes. O risco de um usuário se viciar em maconha está em torno de 9% (sobe para 16% no caso de adolescentes). O de nicotina é 32% e o de álcool, 15%.

Em uma avaliação publicada em 2007 no periódico médico britânico The Lancet, os riscos de 20 drogas foram hierarquizados considerando-se: 1) dano físico; 2) potencial de vício; 3) impacto na sociedade. A maconha ficou em 11º lugar, o tabaco em 9º, o álcool em 5º e a heroína em 1º. Não há registros de morte por overdose de maconha. Também tornou-se obsoleta a ideia de que a erva poderia destruir neurônios. Um estudo holandês de 2007 demonstrou não haver perda detectável de tecido nervoso no cérebro de usuários crônicos de maconha, como acontece com outras drogas.


Victor Affaro
 
Os quatro neurocientistas que se manifestaram publicamente sobre a política de repressão à maconha no Brasil. "O que precisamos discutir são quais os tipos de malefícios "menos prejudiciais" à sociedade: os efeitos da maconha no indivíduo ou a violência associada ao tráfico?", diz Rehen
Crédito: Victor Affaro

Causar menos mal que outras substâncias, inclusive legalizadas, não significa não fazer mal algum. E o livro Cannabis Policy reconhece os danos. Entre os principais riscos físicos e psicológicos do uso de maconha, está o aumento da probabilidade de sofrer acidentes de carro, problemas cardíacos e respiratórios e, entre adolescentes, a chance de desenvolvimento de doenças psíquicas e déficit de aprendizado. Os problemas respiratórios, como bronquite, estão associados principalmente à maconha fumada (uma alternativa seria a vaporização). Já adultos mais velhos e com pressão alta correm o risco de piorar a situação quando usam a erva.

Mas o grupo de maior risco é mesmo o de adolescentes, mais vulneráveis a problemas cognitivos e psicológicos que poderiam ser provocados pela droga. A maconha prejudica a chamada memória curta, ou seja, a capacidade de lembrar de algo que se acabou de ver ou aprender. Como seu efeito agudo dura cerca de três horas, mas continua ativo no organismo por mais nove, o desempenho escolar tenderia a cair. A erva também faz subir os riscos de psicose e ataques de esquizofrenia nessa faixa etária. Em um estudo sobre a relação entre cannabis e esquizofrenia, pesquisadores acompanharam mais de 50 mil suecos durante 15 anos. Revelaram que aqueles que experimentaram maconha por volta dos 18 tiveram uma propensão 2,4 vezes maior à doença. De todos os efeitos indesejáveis apresentados pelo relatório, o único que o neurocientista Renato Malcher, co-autor, junto com Sidarta Ribeiro, do livro Maconha, Cérebro e Saúde, relativiza é a esquizofrenia. O argumento é que não se sabe o que vem antes, o ovo ou a galinha. Ou seja, se pessoas fumaram maconha e ficaram esquizofrênicas, ou se já eram esquizofrênicas antes da primeira tragada. "Muitos portadores da doença usam a droga para aliviar os sintomas", afirma Malcher. Afinal, os efeitos calmantes e sedativos são apenas um dos benefícios da erva já comprovados cientificamente.



NÃO À LEGALIZAÇÃO | Os argumentos de quem é contra
Victor Affaro
RONALDO LARANJEIRA
Crédito: Victor Affaro

Por que você é contra a legalização?
Sou contra qualquer mudança de política em relação à maconha que possa aumentar o consumo. No Brasil, de 2% a 3% da população fuma regularmente maconha. Em alguns países europeus, nos Estados Unidos e Austrália, a média é de 20%. Mas, ao contrário deles, nós não temos uma rede de proteção para as pessoas que desenvolvem transtornos mentais ou problemas sociais por causa da droga. É errado simplesmente discutirmos modelos que funcionam em outras nações, outras culturas. Eles podem servir de inspiração, mas nós precisamos estudar um pouco mais o impacto da nossa lei e, a partir daí, fazermos experiências em algumas cidades ou estados para ver qual seria o melhor modelo para o Brasil.

O problema seria de saúde pública?
A legalização aumentaria o consumo e facilitaria o acesso à maconha. Se fosse permitido que todo mundo plantasse maconha em casa, não só as pessoas que consomem plantariam. Os grandes traficantes também, para fornecer a droga. O afrouxamento dos controles sociais em relação à maconha seria exatamente o oposto do que tem sido feito com o tabaco e o álcool, e não resolveria o problema. Estamos frente a um contrassenso. Para mim, o argumento de que as pessoas têm o direito sobre o próprio corpo é muito mais sério do que falar que a legalização da maconha não vai ter consequências sociais e de saúde pública.

O tráfico não diminuiria?
Essa é uma grande ilusão, porque o tráfico é mais sofisticado do que pensamos. Para competir com ele, seria preciso ter uma maconha mais barata e concentrada. Porque se você vender um cigarro de maconha por R$ 5, o tráfico estará vendendo a R$ 1. Com a legalização, a oferta de maconha vai aumentar, além de o tráfico continuar a vender ilegalmente. E se colocarmos no mercado uma maconha mais pura e forte, do ponto de vista de saúde pública, seria uma temeridade. Não há uma solução simples, não basta apenas legalizarmos a maconha. Essa justificativa de combate ao tráfico é uma ilusão quase que pueril.



Remédio natural
Em maio deste ano, o psicofarmacologista do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp, Elisaldo Carlini, realizou um simpósio para discutir a criação de uma agência brasileira de cannabis medicinal, proposta ao governo. Carlini estuda o assunto desde a década de 50, quando ainda era aluno de medicina da Unifesp, mas o tema é bem anterior a isso. A mais antiga enciclopédia de medicamentos do mundo, o Shen-nung Pen-ts' ao Ching, escrita na China no século 1, indicava a maconha para tratamentos de doenças como dor reumática, constipação e malária. Desde então, a erva foi usada como remédio, inclusive vendida em boticas no interior do Brasil. Dos anos 30 em diante passou a ser considerada uma droga maldita para, nos anos 60, ser colocada pela ONU no mesmo balaio da cocaína e do ópio. Os estudos minguaram. Afinal, como conseguir recursos para investigar uma substância proibida?

Foi em Israel, que sempre adotou uma política mais liberal em relação à droga que, em 1964, o pesquisador Raphael Mechoulam isolou seu principal composto, o tetrahidrocanabinol, ou THC, um dos 70 canabinoides (substâncias químicas com estruturas semelhantes presentes na maconha), para estudar seu efeito. A experiência foi bastante empírica: Raphael preparou um bolo recheado com THC e o serviu a dez amigos. Alguns ficaram falando sem parar, outros sonharam acordados e outros disseram não sentir nada - e de repente disparavam a rir. Provou-se aí que o THC em si era o responsável por produzir os principais efeitos da maconha. Foi o primeiro passo para se entender sua atuação em nosso cérebro. E abriram-se as portas para uma guinada científica na história da droga, em 1988: a identificação dos endocanabinoides. Trata-se de um sistema de substâncias produzidas por nosso organismo, semelhantes às encontradas na maconha - e capazes de desencadear os mesmos efeitos. "Até então, não se sabia ao certo como era o funcionamento da erva em nosso corpo", diz Malcher.

Com a descoberta dos endocanabinoides foi possível avançar nos estudos desses efeitos e, como resultado, produzir os primeiros medicamentos à base de substâncias presentes na maconha. O THC, por exemplo, possui mais de dez propriedades médicas, entre elas a de analgésico, antináusea, sedativo e anticonvulsivo. Virou princípio ativo do Sativex, um dos pelo menos quatro medicamentos fabricados atualmente com substâncias da cannabis, comercializados em países onde o uso medicinal é permitido. O remédio é usado contra dores crônicas em portadores de esclerose múltipla. Para minimizar náuseas e vômitos provocados pela quimioterapia em pacientes com câncer e tratar caquexia, magreza extrema provocada por doenças como a Aids, está no mercado o Marinol. À base de THC, é aprovado pelo FDA, agência americana de controle de alimentos e medicamentos. Remédios fabricados com canabinoides também poderiam ser administrados em pacientes com Alzheimer. Em alguns casos, o uso da própria erva, vaporizada, seria recomendado. "Existe o lado bom de ter um pacote de efeitos que inclui a sensação de bem-estar", diz Malcher. "Não tem que olhar isso como um pecado do remédio, mas como vantagem."

Com tantos potenciais, é pouco comum encontrar especialistas que sejam contra o seu uso medicinal. Ainda que alguns façam ressalvas e acreditem que é necessário realizar mais testes. Nem de longe, porém, o tema gera tanta polêmica quanto o chamado uso recreativo, ou seja, consumir apenas para se divertir. Nesse caso, a questão não é somente médica, mas política e social.

SIM À LEGALIZAÇÃO | Os argumentos de quem é a favor
Victor Affaro
SIDARTA RIBEIRO
Crédito: Victor Affaro

Por que você defende a legalização?
Todo o conhecimento científico que temos sobre a maconha não justifica nada diferente disso. A maconha faz mal, mas não tanto. O argumento da proibição era: faz a pessoa virar assassina, depois, causa câncer (hoje se sabe que o que causa câncer é a fumaça), mata neurônio. Depois não faz tão mal assim, mas variedades que venham a ser feitas em laboratório podem fazer. Sempre tem um argumento apocalíptico. Não é dizer que maconha não faz mal, café faz mal, cigarro, álcool, e as drogas que nós receitamos? Mas tudo isso pode ser controlado. Porém só a legalização permite regulamentar e controlar uma droga. Quando se legaliza, a qualidade sobe. Tem que haver campanha de controle e informação, não de repressão. O mal causado pela maconha é menor do que o provocado pela proibição, que só impulsiona o tráfico. Defendo que os usuários plantem maconha em casa como forma de não alimentar o narcotráfico.
Cresceria o número de usuários? Isso é uma falsa questão. Em primeiro lugar, em países com políticas mais liberais, como a Holanda, não houve um aumento vertiginoso. Mas suponhamos que houvesse crescimento: vai ter mais gente pedindo ajuda no hospital? Se for ter, são mais ou menos pessoas do que as que estão morrendo na guerra contra o tráfico? Acredito que muito menos. Esta guerra está nos dizimando, precisa ser transformada em uma questão de saúde pública. Há pessoas viciadas em açúcar, que é um problema sério de saúde. Mas quantas pessoas são suscetíveis a isso? Uma minoria. Então, o ideal seria tratar as pessoas que têm problema com uma determinada substância e deixar os demais fazerem uso recreativo dela. É mais fácil tratar o indivíduo do que acabar com o tráfico.

Não aumentariam outros tipos de crimes?
Se for legalizado rapidamente, a sociedade vai engasgar. As pessoas vão mudar de crime. Quando legalizar tem que dar emprego, informação. Outros tipos de crime, como assalto a banco, sequestro, podem aumentar. Mas são mais controláveis do que o comércio pulverizado da maconha. Um cara assalta um banco uma, duas, na terceira vez ele é pego. Quanto mais famoso fica, pior. Por que ex-presidentes da América Latina, como Fernando Henrique Cardoso, estão defendendo a legalização? Por que são jovens maconheiros hippies? Não. Porque entenderam que o combate ao narcotráfico não funciona. É tentar apagar fogo com gasolina. A única maneira de ganhar essa guerra é cortar o mal pela raiz: acabar com o mercado ilegal. Como? Legalizando-o.

                            O X da questão
Os neurocientistas não carregam sozinhos a bandeira da legalização da maconha. No ano passado, foi criada a Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia, dirigida por Fernando Henrique Cardoso. O sociólogo e ex-presidente do Brasil segue os passos de outros dois ex-chefes de estado: César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México. Esses líderes estudam uma política de diminuição dos danos das drogas, já que a guerra a seu combate demonstrou-se falida.

O mercado mundial de drogas ilícitas fatura por ano cerca de US$ 320 bilhões. Nem um centavo é revertido para o governo. Pelo contrário. Somente nos Estados Unidos, são gastos US$ 35 bilhões por ano em repressão ao tráfico. "Se investissem isso em campanhas de educação para as drogas, o resultado seria muito melhor", afirma Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. A socióloga defende a legalização de todas as drogas, com regulamentação e taxação sobre elas e investimentos dos recursos recolhidos no tratamento de dependência química. Apesar de todo o aparato de repressão, no mundo cerca de 160 milhões de pessoas fumam maconha.

Victor Affaro
ANA CECÍLIA ROSELLI MARQUES > Para a psiquiatra da Unifesp, o Brasil não deve legalizar a cannabis. "Aqui qualquer um enche a cara e dirige. O mesmo impacto teria a maconha."
Crédito: Victor Affaro

No Brasil, o número de usuários está entre 2% e 3% dos 192 milhões de habitantes. Na Austrália, esse porcentual fica em torno dos 20%. Mas a América Latina segue como a maior exportadora mundial de maconha e de cocaína. Para manter esse mercado gigantesco por baixo dos panos, os traficantes se armam - assim como o Estado no intuito de combatê-los. Em suas orientações sobre políticas públicas, o livro Cannabis Policy defende que a tentativa de conter o mal causado por alguma coisa nunca pode gerar um mal maior do que a própria coisa. "Nos últimos anos, a polícia do Rio de Janeiro matou cerca de 10 mil pessoas por suspeita de narcotráfico. O número de mortos por efeitos adversos do uso de drogas ilícitas nesse período não chega a 1% disso", afirma o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ. "A única maneira de ganhar a guerra contra o tráfico é cortar o mal pela raiz: acabar com o mercado ilegal. Como? Legalizando-o", diz o neurocientista Sidarta Ribeiro.

Nesse momento, o que é justificativa para proibição pode se transformar em argumento de defesa da legalização. Para o neurocientista João Menezes, se o jovem é o maior alvo dos efeitos maléficos da planta, só a legalização poderia protegê-lo. "Seria possível regulamentar a venda da droga, proibi-la para menores de 21 anos e criar campanhas educativas sobre seus riscos", diz. Além disso, se passaria a cobrar impostos sobre a venda e multas no caso de comércio irregular. "Aí a fiscalização não seria mais realizada pela polícia, mas por agentes de vigilância sanitária e da receita federal. Não é o revólver, é a caneta", afirma. Para Sidarta, a regulamentação também seria uma forma de controlar a qualidade da droga. "Com ela, as impurezas caem. Quando o álcool era proibido, certamente se faziam bebidas com metanol em casa." Foi assim durante a Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos entre 1920 e 1933 e que, em vez de diminuir os índices de violência, acabou por fortalecer as máfias locais. "A campanha deve ser de controle e informação, não de repressão", diz Sidarta.
O RISCO DAS DROGAS
Revista Galileu
*Publicado em 2007 por David Nutt, da Universidade de Bristol, na revista médica britânica The Lancet


O principal contra-argumento de quem se opõe à legalização é que a medida não diminuiria o narcotráfico. Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, para competir com o tráfico a maconha legal teria que ser mais barata e com maior concentração de THC. Pois, se um baseado custar R$ 5, o traficante vai vender por R$ 1. "Com a legalização, o tráfico vai continuar. Vai-se aumentar a oferta de maconha com o sistema legal e o ilegal em paralelo", diz. O medo aí é uma sobrecarga na saúde pública. Apesar disso não ter sido uma grande questão em países em que o regime de drogas se tornou mais liberal, a exemplo de Portugal e Holanda, a psiquiatra Ana Cecília Roselli Marques não acredita que o Brasil esteja preparado para essa mudança. "Não damos conta sequer dos problemas gerados pelas drogas lícitas, como o álcool e o tabaco." Ela não acredita que os impostos arrecadados com a maconha legalizada seriam reinvestidos em saúde pública. "Pode procurar: onde se encontra tratamento gratuito para tabagistas?"

Por mais que os estudos científicos tenham avançado e que comissões tenham sido criadas para pesquisar formas de diminuir os males sociais causados pela droga, a discussão está longe de um resultado concreto. Pelos neurocientistas que colocaram sua opinião abertamente para a sociedade, isso não é problema. Já que a intenção não é que se criem políticas públicas de imediato, mas incitar a discussão para uma transformação verdadeira. "O cientista é cidadão e tem o dever de informar. Não adianta só publicar artigos, se seu impacto na sociedade também pode vir da forma com que ele se expressa e como contribui para o debate", diz Stevens Rehen. Se conseguirem despertar essa mudança de perspectiva, por ora, os autores da carta que inaugurou essa nova polêmica já se darão por satisfeitos.
GLOSSÁRIO DA LEI
DESPENALIZAÇÃO: A posse, uso e comércio é crime. O usuário não pode ser preso, mas , em alguns casos, fica o registro em sua ficha criminal. São aplicadas medidas alternativas, como prestação de serviços à comunidade.

DESCRIMINALIZAÇÃO: A posse e uso deixam de ser crime, mas o comércio segue proibido. O consumo é considerado uma infração passível de multa.

LEGALIZAÇÃO: É permitido o uso e posse e o comércio é regulamentado. Não existe em nenhum país.

Consultoria: Luciana Boiteux, professora adjunta de Direito Penal da UFRJ

A LEI PELO MUNDO | Como alguns países julgam o consumo, comércio e uso medicinal da maconha
Revista Galileu

HOLANDA | (ILEGAL / DESPENALIZADO)
Ao contrário do que se pensa, não legalizou a maconha. Mas é pioneira em políticas liberais para a droga. Pode-se plantar ou portar até 30 gramas. Mais que isso, pode dar um mês de cadeia, com direito a fiança. A venda nos chamados coffee shops é descriminalizada para até cinco gramas por transação, até 500 gramas por dia. O país aprova o uso medicinal de algumas substâncias da maconha, sob prescrição controlada.
Revista Galileu

ESTADOS UNIDOS | (ILEGAL / DESCRIMINALIZADO EM ALGUNS ESTADOS)
A posse e consumo de quantidades pequenas de maconha é descriminalizada em 13 dos 50 estados do país. O uso medicinal da droga é autorizado em 14 deles e no Distrito de Colúmbia. Em novembro, a Califórnia realizará um plebiscito para decidir a legalização do cultivo, consumo e venda de maconha para maiores de 21 anos - o país ignora as convenções da ONU, contrária à ideia.
Revista Galileu

BRASIL | (ILEGAL / DESPENALIZADO)
A posse e consumo de pouca quantidade de maconha é despenalizada desde agosto de 2006. Usuários não podem ser presos. Sofrem advertências sobre os efeitos da droga. Podem ser obrigados a prestar serviços comunitários (por cinco a dez meses) e a comparecer a cursos educativos. Não autoriza uso medicinal.
Revista Galileu

SUÉCIA | (ILEGAL / O USUÁRIO PODE PEGAR TRÊS ANOS DE CADEIA)
Não diferencia a maconha de outras drogas, como cocaína. O usuário está sujeito à prisão de seis meses a três anos. Pode-se pagar fiança em casos considerados não graves. Há ocorrências de casos raros em que aceitou o uso medicinal de substâncias da maconha em doentes terminais.
Revista Galileu

CHINA | (ILEGAL / PENA DE MORTE PARA O TRAFICANTE)
Ditadura total. É proibida a posse, consumo e comércio de qualquer narcótico, inclusive a maconha. O usuário é coagido por lei a seguir um programa de desintoxicação. Sua reabilitação é acompanhada por cerca de quatro anos. Se for enquadrado como traficante, pode pegar pena de morte.

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