domingo, 7 de outubro de 2012

DIFERENÇAS CEREBRAIS ENTRE OS HOMENS E AS MULHERES


Os homens e as mulheres são diferentes, todos sabemos disso. 

Porém, além das diferenças anatômicas externas e dos caracteres sexuais primários e secundários, os cientistas sabem também que existem várias outras diferenças sutis na maneira pela qual os cérebros dos homens e das mulheres processam a linguagem, as informações, as emoções, o conhecimento, etc. 

Uma das diferenças mais interessantes refere-se à maneira segundo a qual os homens e as mulheres calculam o tempo, estimam a velocidade de objetos, realizam cálculos matemáticos mentais, orientam-se no espaço e visualizam os objetos tridimensionais, e assim por diante. Ao realizar todas essas tarefas, os homens e as mulheres são extremamente diferentes, assim como o são quando seus cérebros processam a linguagem. Isso poderia explicar, afirmam os cientistas, o fato de que existem mais homens matemáticos, pilotos de avião, guia de safari, engenheiros mecânicos, arquitetos e pilotos de Fórmula 1 do que mulheres. 


Por outro lado, as mulheres são melhores que os homens em relações humanas, em reconhecer aspectos emocionais nas outras pessoas e na linguagem, na expressão emocional e artística, na apreciação estética, na linguagem verbal e na execução de tarefas detalhadas e pre-planejadas. 
Por exemplo, as mulheres normalmente são melhores que os homens em lembrar listas de palavras ou parágrafos. 

O "pai" da sociobiologia, Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard (10), afirmou que as mulheres tendem a ser melhores que os homens em empatia, em habilidades verbais, sociais, e de proteção, dentre outras, enquanto que os homens tendem a ser melhores em habilidades de independência, de dominação, em habilidades matemático-espaciais, nas de agressão relacionada a hierarquia, e outras características. 

No início dessas investigações, os cientistas eram céticos quando ao papel dos genes e das diferenças biológicas, dado que o aprendizado cultural é muito poderoso e influente entre os seres humanos. As meninas são mais propensas a brincar de boneca e cooperar entre si do que os meninos, porque assim são ensinadas por seus pais, professores e colegas ou é exatamente o contrário? 

No entanto, as diferenças de gênero já se manifestam desde alguns meses após o nascimente, quando a influência social ainda é pequena. Por exemplo, Anne Moir e David Jessel, em seu controverso e admirável livro "Brain Sex" ("O sexo do cérebro") (11), oferecem explicações para essas diferenças precoces nas crianças: 

"Essas diferenças discerníveis e mensuráveis do comportamento são programadas muito antes que as influências externas tenham a oportunidade de se manifestar. Elas refletem uma diferença básica no cérebro do recém-nascido que já conhecemos -- a maior eficiência dos homens quanto a habilidades espaciais, a maior habilidade das mulheres quanto à fala." 


Agora, após muitas pesquisas cuidadosas e bem controladas, onde o meio-ambiente e a aprendizagem social foram isoladas, os cientistas descobriram que existem uma grande variedade de diferenças neurofisiológicas e anatômicas entre os cérebros dos homens e das mulheres. 

O estudo das diferenças cerebrais 

Existem hoje uma variedade de métodos neurocientíficos sofisticados que permitem aos cientistas testar diferenças minúsculas entre quaisquer grupos de cérebros. Existem muitas abordagens tornadas possíveis pelo avanço do processamento computadorizado de imagens, como por exemplo, a tomografia (que mostra imagens detalhadas de "fatias" do cérebro): 

- medidas volumétricas de regiões cerebrais: define-se uma região e o computador, a partir de uma série de fatias, calcula a área daquela região cerebral, e então realiza cálculos de integralização de várias área para calcular seu volume aproximado. A análise estatística de várias amostras pertencentes a cérebros diferentes permite descobrir se existem (ou não) diferenças em volume, espessura, etc. 

- imagens funcionais: graças ao uso de aparelhos sofisticados tais como o tomógrafo de emissão de pósitrons (o PET) ou o fMRI (Imagens de Ressonância Magnética funcional) ou o Eletroencefalógrafo de Topografia do Cérebro, os pesquisadores são capazes de visualizar em duas ou três dimensões, quais as partes do cérebro são funcionalmente ativadas quando uma tarefa é executada pelos indivíduos testados.. 

- exame post-mortem. Os cérebros de falecidados são retirados e fatiados. As modernas técnicas de análise de imagem são usadas para detectar diferenças quantitativas tais como o número e a forma de neurônio e outras células cerebrias, a área, espessura e voluem das diversas áreas do cérebro etc. 

Os cientistas que trabalham na Universidade Johns Hopkins University publicaram recentemente na revista especializada "Cerebral Cortex" (1), a descoberta de que existe uma região no córtex chamado de lóbulo infero-parietal (LIP) que é significativamente maior nos homens do que nas mulheres. Essa área é bilateral e localizada logo acima do nível das orelhas (córtex parietal) . 

Além disso, os cientistas da Universidade Johns Hopkins observaram que, nos homens, o lado esquerdo do LIP é maior do que no lado direito. Nas mulheres, a assimetria é exatamente o contrário, embora as diferenças entre os lados esquerdo e direito não sejam tão importantes quanto nos homens. Esta é a mesma área que foi demonstrada ser maior no cérebro de Albert Einstein, assim como de outros físicos e matemáticos. Portanto, parece que o tamanho do LIP está correlacionado com as habilidades mentais em matemática. Os neurologistas suspeitavam da existência de diferenças morfológicas do cérebro desde a época da frenologia (embora esta tenha sido provada ser uma abordagem errada), no século 19. O fim do século 20 testemunha as primeiras provas científicas disso. 

O estudo, dirigido pelo Dr. Godfrey Pearlson, foi realizado graças a análise de varreduras de imagens de ressonância magnética de 15 homens e mulheres. Os volumes foram calculados através de um pacote de software desenvolvido pelo Dr. Patrick Barta, um psiquiatra da Universidade Johns Hopkins. Mesmo depois de descartar as diferenças naturais que existem no volume total cerebral entre os homens e as mulheres, ainda permanecia uma diferença de 5% entre os volumes de LIP (o cérebro dos homens é, em média, aproximadamente 10% maior do que as mulheres, mas isso é deivod ao maior tamanho corporal dos homens: um maior número de células musculares implica em um maior número de neurônios para controlá-las). 

Em geral, o LIP permite que o cérebro processe informações a partir dos órgãos dos sentidos e ajude na atenção e percepção seletivas ( por exemplo, as mulheres são mais capazes de se concentrar em um estímulo específico, como por exemplo, o choro do bêbê à noite). Os estudos têm relacionado o LIP direito à memória envolvida na compreensão e manipulação das relações espaciais e à capacidade de estabelecer relações entre as partes do corpo. Ele está também relacionado à percepção de nossos próprios sentimentos ou emoções. O LIP esquerdo está implicado na percepção do tempo e do espaço e na capacide de rotação mental de figuras tridimensionais (como por exemplo no famoso jogo de Tetris) 

Um estudo anterior do mesmo grupo dirigido pelo Dr. Godfrey Pearlson (9) demonstrou que duas áreas nos lobos frontais e temporais relacionados à linguagem (conhecidos como áreas de Broca e Wernicke, em homenagem a seus descobridores) são significamente maiores nas mulheres, fornecendo assim um motivo biológico para a notória superioridade mental das mulheres relacionada à linguagem. 
Utilizando imagens de ressonância magnética, os cientistas mediram os volumes de matéria cinzenta em diferentes regiões corticais de 17 mulheres e 43 homens. As mulheres apresentavam um volume 23% maior (na área de Broca, no córtex prefrontal dorsolateral) e 13% maior (na área de Wernicke, no córtex temporal superior) do que os homens. 

Esses resultado foram corroborados mais tarde por outro grupo de pesquisa da Faculade de Distúrbios da Comunicação da Universidade de Sydney, Austrália, que foi capaz de provar essas diferenças anatômicas nas áreas de Wernicke e de Broca (3). O volume da área de Wernicke's era 18% maior nas mulheres, comparado aos homens, e o volume cortical da área de Broca era 20% maior em mulheres do que nos jovens. 

Por outro lado, evidência adicionais são obtidas a partir de pesquisa que mostra que o corpus callosum, (corpo caloso) uma grande massa de fibras nervosas conectada a ambos os hemisférios cerebrais, é maior nas mulheres do que nos homens (5), embora essa descoberta tenha sido contestada recentemente. 

Em outra pesquisa, um grupo da Universidade de University of Cincinnati, nos Eatados Unidos, Canada, apresentou evidência morfológicas de que enquanto os homens têm mais neurônios no córtex cerebral, as mulheres tem um neuropil mais desenvolvido - isto é, o espaço entre os corpos celulares que contém as sinapses, os dendritos e os axônios, e permite a comunicação entre os neurônios (8). De acordo com a Dra. Gabrielle de Courten-Myers, essa pequisa pode explicar porque as mulheres são mais propensas a demência ( devido à doença de Alzheimer, por exemplo) do que os homens, porque embora ambos percam o mesmo número de neurônio por causa da doença, "nos homens, a reserva funcional pode ser maior, pois existe um maior número de células nervosas, o que poderia prevenir parte das perdas funcionais." 



Os pesquisadores realizaram medidas em fatias cerebrais de 17 mortos ( 10 homens e 7 mulheres) tais como espessura do cortex e número de neurônios em diferentes partes do córtex. 

Outros pesquisadores, dirigidos pelo Dr. Bennett A. Shaywitz, um professor de Pediatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, descobriram que o cérebro das mulheres processam a linguagem verbal simultaneamente nos dois lados (ou hemisférios) do cérebro frontal, enquanto que os homens tendem a processá-la apenas no hemisfério esquerdo. Eles realizaram imagens de tomografia por ressonancia magnética planar funcional de 38 cérebros de indivíduos dextros (19 homens e 19 mulheres). A diferença foi demonstrada em um teste em que os sujeitos deviam ler uma lista de palavras sem sentido e encontram suas rimas (7). É curioso observar que os orientais que usam idiomas escritos baseados em figuras (isto é, os ideogramas) tendem também a utilizar ambos os hemisférios cerebrais, independentemente do gênero. 

Embora a maioria dos estudos anatômicos e funcionais realizados até agora tenham se concentrado no córtex cerebral, que é responsável pelas funções cognitivas e intelectuais superiores do cérebro, outros pesquisadores como o Dr. Simon LeVay, têm demonstrado que existem diferenças de gênero em partes mais primitivas do cérebro, como por exemplo o hipotálamo, onde a maioria das funções básicas da vida são controladas, incluindo o controle hormonal através da glândula pituitária. LeVay descobriu que o volume de um núcleo específico do hipotálamo ( terceiro grupo de célulo no núcleo intersticial do hipotálamo inferior) é duas vezes maior em homens heterossexuais do que nas mulheres e nos homossexuais, provocando um debate caloroso sobre a possível existência de uma base biológica da homossexualidade (6). Dr. LeVay escreveu um interessante livro sobre as diferenças do cérebro em função do sexo, entitulado "The Sexual Brain" (6). 

Evolução versus Ambiente 

Qual o motivo para essas diferenças de gênero em estrutura e função? 
Segundo a Society for Neuroscience, a maior organização professional da área, a evolução é que confere sentido a isso. "Em épocas muito antigas, cada sexo tinha uma papel muito definido que ajuda a assegurar a sobrevivência da espécie. Os homem da caverna caçavam. As mulheres da caverna recolhiam comida perto de casa e cuidavam das crianças. As áreas do cérebro podem ter sido desenvolvidas para permitir que cada sexo realizasse suas tarefas". O Prof. David Geary, da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, um pesquisador do campo das diferenças de gênero, pensa que "em termos evolutivos, o desenvolvimento de habilidades navegacionais pode ter tornado os homens mais capacitados para o papel de caçador, enquanto que o desenvolvimento pelas mulheres de preferências por marcos espaciais pode ter capacitado-as para cumprir suas tarefas de coletoras de alimento perto de casa." (2) A vantagem das mulheres relativa às habilidades verbais também pode fazer sentido em termos evolutivos. Enquanto que os homens tem força corporal para competir com outros homens, as mulheres usam a linguagme para conseguir vantagens sociais, através da argumentação e persuasão, afirma Geary. 

A autora Deborah Blum, que escreveu "Sex on the Brain: The Biological Differences Between Men and Women" (12), ("O sexo no cérebro: as diferenças biológicas entre homens e mulheres") transmitiu as tendências atuais quanto ao uso de motivos evolutivos para explicar vários dos nossos comportamentos. Ela afirma: "O enjôo matinal, por exemplo, que faz com que algumas mulheres afastem-se de cheiros e sabores fortes, pode ter protegido, em tempos idos, os fetos no útero contra subtâncias tóxicas. A infidelidade é uma maneira pela qual os homens asseguram a imortalidade genética. É interessante notar que, quando mudamos deliberadamente nosso comportamento de papel social -- nossos hormônios e até mesmo os cérebros respondem transformando-se também." 

Durante o desenvolviemento do embrião no útero, os hormônios circulantes tem um papel muito importante na diferenciação sexual do cérebro. A presença de andrógenos no início da vida, produzem um cérebro "masculino". Ao contrário, acredita-se que o cérebro "feminino" se desenvolva por um mecanismo de ausência hormonal, a falta de andrógeno. Mas, as descobertas recentes demonstraram que os hormônios ovarianos também desempenham um papel fundamental na diferenciação sexual. 

Uma das evidências mais convincentes do papel dos hormônios, tem sido demonstrada graças ao estudo de meninas expostas a elevados níveis de testosterona no período da gravidez, pois suas mães tinham hiperplasia adrenal congênita (4). Essas meninas parecem ter uma melhor consciência espacial do que outras meninas e apresentam maior tendência a mostrar, quando criança, um comportamento turbulento e agressivo, muito parecido com o dos meninos. 


Fatos e Preconceitos 

Essas diferenças, porém, implicam em uma relação de superioridade/inferioridade entre os homens e as mulheres?


"Não", afirma o Dr. Pearlson. "Afirmar isso signfica dizer que os homens são automaticamente melhores em algumas coisas do que as mulheres é uma atitude simplista. É fácil encontrar mulheres que são extraordinárias em matemática e física e homens que são excelentes em habilidades de linguagem. Somente quando examinamos uma população muito grande e investigamos tendências pequenas porém significativas podemos ver as generalizações. Existem muitas exceções, mas há também uma pitada de verdade, revelada pela estrutura cerebral, que acreditamos estar subjacente a algumas das maneiras pelas quais as pessoas caracterizam os sexos." 


O Dr. Courten-Myers acrescenta: "O reconhecimento de maneiras -- específicas ao gênero -- de pensar e sentir, tornadas ainda mais críveis dadas essas diferenças bem estabelecidas, poderia ser benéfico para a melhora de relações interpessoais. Porém, a interpretação dos dados também pode trazer abuso e prejuízo se qualquer um dos gênero tentar construir evidências para a superioridade do homem ou da mulher baseadas nessas descobertas." 

A conclusão é que as neurociências realizaram grandes avanços na década de 1990 quanto a descoberta de diferenças concretas e cientificamente comprovadas entre os cérebros dos homens e das mulheres. Embora esse conhecimento poderia teoricamente ser usado para justifica a misoginia e preconceito contra as mulheres, felizmente isso não tem acontecido. Na verdae, esse novo conhecimento pode ajudar os médicos e cientistas a descobrir novas maneiras de explorar as diferenças cerebrais para o tratamento de doenças, para personalizar a ação de medicamentos, para utilizar diferentes procedimentos cirúrgicos, etc. Afinal de contas, os homens e mulheres diferem apenas quanto ao cromosso Y, mas isso tem um impacto real sobre tantas coisas, inclusive a dor, os hormônios, etc. 




Prof. Dr. Renato M.E. Sabbatini 


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