quarta-feira, 25 de abril de 2012

O OLHAR DA PSICOLOGIA


Serão os comportamentos delinquentes geneticamente determinados?


No seguimento de uma dissertação como esta, é importante que os termos e conceitos de que se trata estejam totalmente esclarecidos. 
Antes de mais, neste texto irei refletir sobre o que é um delinquente e o que o torna delinquente.
Atentemos em casos em que a delinquência está mais associada: por exemplo os ciganos e os negros. 
Bem sabemos que a estes primeiros (os ciganos) associamos casualmente os conflitos, talvez nem porque tivemos experiências que evidenciem este fato, mas sim porque as impressões que temos deles nos foram transmitidas indiretamente pelas pessoas com quem contactamos ou até pela nossa cultura padrão. 
Até aqueles que eventualmente dizem: “ah esta música, eu adoro música cigana!”, ou “eles sim, são os verdadeiros nómadas, ah que vida”, na proximidade ou contato com a etnia cigana poderão ser os primeiros a colocar trancas à porta! 
É já evidente a relação entre as impressões e as expectativas, e daqui há uma “ponte” para a auto concretização das expectativas. 
É aqui, que tendo nós uma atitude bastante negativa relativamente á comunidade cigana, tenderemos para comportamentos que passem a justificar as atitudes, mesmo que contrariem a realidade; o que isto quer dizer?
Quer dizer que faremos tudo e veremos tudo e apenas o que há de mau, o que consiga “fundamentar” a nossa tese e alimentar o sentimento negativo em relação à comunidade em questão, para que tenhamos a razão do nosso lado. Na outra face da moeda, temos os ciganos, que, por sua vez, vão responder aos estímulos negativos impostos pela sociedade em redor, tornando-se os delinquentes da cultura padrão. 
Por isso, e na minha opinião, a categorização dos ciganos, entre outros, resulta de um confronto entre culturas, podendo estes então serem delinquentes sociais – uma fuga ao padrão, que envolve conflitos e desacatos.

O conceito de delinquência tem muitas faces, tendo principalmente uma vertente psico-social e outra criminal. Comummente, na nossa sociedade, entendemos como sendo os delinquentes os drogados, os “mitras”, “gangsters” e isso, de certa forma, permite-nos precaver conflitos que poderiam surgir, fruto de um choque entre pensamentos (no fundo é como um europeu ir ao Islão).
Mas afinal de onde vêm, então, os delinquentes? Existem bairros onde a delinquência é uma tradição muito “conceituada” sendo esse o padrão cultural existente.
Porém, apesar de até agora me ter cingido ao papel da cultura na construção do delinquente, existem evidências de que a genética tem o seu papel no encaminhamento psicológico. 
A influência genética em doenças de foro psiquiátrico, tais como a doença do humor, a esquizofrenia, ou o alcoolismo já é amplamente aceite. 
Outro caso muito recente que apareceu foi um estudo de uma anomalia cromossómica muito rara; os indivíduos, do sexo masculino, podem possuir, ao contrário do normal cromossoma x e cromossoma y, dois y e um x. Este fato vai criar uma forte predisposição para que estes indivíduos se tornem agressivos e anti-sociais, são os chamados hiper-masculinos. 
Nestes casos, a influência genética tem um papel altamente condicionante, já que a predisposição deste indivíduos para a violência é muito grande e não precisa de um estímulo forte para se desenvolver. 
Investigações britânicas descobriram que muitos dos maiores criminosos conhecidos eram portadores destas anomalias; este facto forçou a paragem da investigação, pois, se fosse provado que isto era verdade, esta nova descoberta poderia alegar a favor do réu.
Deparamo-nos agora com um cenário muito ambíguo em que o grau de influência genética (predisposição) e da cultura têm de ser confrontados. Atentando neste casos podemos concluir que, na sua grande maioria, os casos de delinquência não são fatalmente genéticos e que a influência do meio é bastante avultada.
A existência de predisposição genética é de fato verdade, mas são os estímulos exteriores que ativam as características inerentes á delinquência.


Para finalizar, não podemos deixar de referir que esta dissertação não se destina a encontrar razões justificativas da existência de delinquentes culturais (culturas minoritárias), mas sim de uma delinquência pejorativa e que afeta a sociedade em geral.


RESISTÊNCIA E TRANSFERÊNCIA NO PROCESSO PSICANALÍTICO.

No século XIX, a medicina começava a preocupar-se com as neuroses humanas e em foco se tinha a histeria, enquanto enfermidade e a hipnose usada para o seu tratamento. Diante de todo o debate levantado sobre esse tema, visto que a hipnose não era bem aceita em todos os meios como ciência séria e sim como obra de charlatães, e que a histeria nada mais era do que um capricho/fingimento do paciente, destacou-se o então neurologista Sigmund Freud, homem da ciência, que partiu do Hospital de Meynert e foi em busca de Charcot aprender sobre a novidade que surgia. Foi como se Freud tivesse, enfim, encontrado aquilo em que realmente acreditava. Ficou fascinado pelos novos conhecimentos. Nesse ínterim, Freud conheceu o Dr. Breuer, que usava, ainda que de forma discreta, a hipnose no tratamento da histeria e compartilhou com Freud os estudos sobre o método catártico. Foi então que Freud enveredou por esse caminho, aprofundando-se cada vez mais, abrindo mão de algumas coisas, acrescentando outras até que deu um grande passo na história da humanidade e trouxe à tona a psicanálise, uma ciência voltada ao estudo do inconsciente psíquico e todo o poder que ele exerce sobre o homem.


Os Studies of Hysteria (1893-95) obra fruto da parceria de Freud e Breuer trazem ricas informações de como Freud chegou a descoberta de certos mecanismos de defesa do paciente, tais como a resistência e a transferência. O não contentamento de Freud com os obstáculos encontrados na prática da análise e a sua sabedoria em transformar tais obstáculos em algo que viesse a trabalhar a seu favor foi crucial para que fizesse desses dois mecanismos de defesa, não algo que viesse a atrapalhar o tratamento, mas sim algo que viesse a ser usado como parte fundamental do tratamento psicanalítico.


Na Clínica Psicanalítica, entendemos por defesa tudo o que é usado pelo analisando na tentativa de fugir do sofrimento, das lembranças que contêm o foco de seus traumas. Freud, em seus trabalhos, usou os termos “defesa” e “resistência” como sinônimos. A defesa age através do ego, ou seja, o ego do analisando na tentativa de fugir de uma lembrança dolorosa chama uma força repulsora que afaste essa idéia/lembrança patogênica. Daí o conceito de que toda defesa é uma tentativa do sujeito de fugir do que lhe traz dor, de esconder as idéias e pensamentos causadores ou relacionados aos seus traumas. As defesas podem acontecer tanto de forma inconsciente como conscientemente. E é papel do analista derrubar essas resistências e chegar ao foco do problema: a lembrança dolorosa causadora do trauma.
São muitos os exemplo de resistências na clínica psicanalítica, entre eles temos o silêncio do analisando – o que ele não quer falar? O que o faz não querer falar? – a postura do analisando no divã, a sua inquietação; falar somente de assuntos triviais e relacionados ao meio externo; evitar certos assuntos – um dos assuntos mais evitados é justamente o que diz respeito às fantasias sexuais com o analista; a ausência de sonhos; falta ás sessões por “n” motivos e mais uma infinidade de situações causadas pelo analisando, algumas das vezes até de forma inconsciente para evitar chegar na descarga de tudo o que tem lhe causado dor.
Mesmo quando a sessão parece fluir de forma solta, de repente, ao se tocar em determinado assunto, a resistência entra em cena e é preciso técnica para derrubá-la. Geralmente os assuntos ligados à sexualidade são os que trazem consigo mais defesas.


A resistência está presente em maior ou menor grau em todo o processo analítico, desde o início até a sua conclusão. A resistência se opõe ao processo analítico, ao analista e ao ego racional do paciente. Ela defende o “status quo” da neurose do analisando.


A resistência é um conceito operacional e não um conceito criado pela Psicanálise. A clínica psicanalítica, em verdade, serve de campo onde as resistências atuam.  Então, cabe dizer que a clínica psicanalítica se caracteriza pela análise completa das resistências, descobrir como o paciente resiste, a que ele resiste e porque age assim.


Já por transferência entendemos uma situação onde um sujeito transfere para outro, sentimentos que, em verdade, não estão dirigidos a esta pessoa e sim a uma outra pessoa do passado. No caso da clínica psicanalítica o analisando transfere para o analista sentimentos e emoções que na verdade são de uma relação vivida (ou deixada de viver) com um ente ou pessoa próxima que fez parte de sua infância primitiva, segundo Freud. São, em geral, sentimentos de relações que não foram bem resolvidas. O analisando, em vez de recordar uma experiência passada ele a revive e a recria, no entanto, envolvendo uma outra pessoa que não a originária e isso pode ser caracterizado como um tipo de defesa.
 
A reação transferêncial é sempre uma relação objetal, ou seja, relação que pode conter emoção, impulso, desejo, atitude, fantasia e defesas contra isso tudo. Ela se dá sempre de forma inconsciente e cabe ao analista reconhecê-la. Embora em alguns casos o analisando até possa perceber que está exagerando em algum sentimento, ele não entende o porquê disso. Muito embora a transferência esteja sendo abordada dentro clínica psicanalítica, ela pode acontecer também fora dela.
É mister dizer que a reação transferencial não encontra compatibilidade no contexto atual, no entanto, ela cabe perfeitamente na situação primária. Seria como se um analisando ao perceber que a sua analista está a usar o cabelo preso num rabo-de-cavalo, sentisse uma onda incontrolável de ciúmes e um medo de ser abandonado ao ponto de decidir que naquela sessão não falaria nada e ofereceria apenas o silêncio e a inquietude de seu corpo como material para a profissional que o atende.  Em verdade, o analisando trouxe para o presente a lembrança de que, quando criança, desejoso da atenção de sua mãe, na fantasia de querê-la só para si, viu-a arrumada, bem vestida e justamente com o cabelo preso num rabo-de-cavalo a dizer-lhe que naquela noite a babá o colocaria para dormir porque ela, a mãe, sairia com o seu pai. A criança ficou praticamente entalada de tanto ciúme a se ver trocada pelo pai. Essa situação é totalmente explicável no âmbito primário, mas é completamente incabível na situação atual.


A transferência é sempre uma repetição e sempre será inadequada. Então podemos citar mais algumas características da reação transferencial que são: a intensidade de sentimentos ou ausência total do mesmo; a inconstância e a tenacidade.


Para que um fenômeno psíquico seja enquadrado como transferência é necessário que apresente quatro características básicas: 1) que seja uma variação de relacionamento objetal. 2) Que seja sempre uma repetição de um relacionamento passado com o objeto. 3) Que apresente um deslocamento, visto que esse é o processo fundamental nas reações transferênciais. 4) Que seja sempre um fenômeno regressivo. 
A transferência é um fenômeno imprescindível no processo analítico. Sem a transferência, não há análise. É ela que indica a direção a ser tomada pelo analista visto que é através dela que os processos inconscientes se atualizam e abrem as portas para o surgimento do conflito psíquico e sua resolução. A transferência segue mais ou menos o ritual “recordar, repetir, elaborar”.
A transferência revela a constituição do sujeito, de sua demanda e de seu desejo, só a partir dela é possível que o sujeito descubra a estrutura de seu desejo.


A resistência tal qual a transferência são mecanismos de defesa e são imprescindíveis para a realização do tratamento psicanalítico. Sem elas, não há psicanálise. Uma aparece na tentativa de encobrir e se defender de lembranças dolorosas, a outra como a repetição de uma relação objetal passada, e as duas trazem consigo pilares fundamentais com material riquíssimo para a clínica analítica.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

UMA PEQUENA AULA SOBRE O QUE É FILOSOFIA.


Do grego philosophia (philos = amante/amigo, sophia=saber) derivou-se a palavra filosofia. Mas foi “Aristóteles, o primeiro a pesquisar rigorosamente e sistematicamente a natureza desta disciplina, diz que a filosofia estuda as causas ultimas de todas as coisas’. (MONDIN, 1981).
Nada mais justo deixarmos os pensadores clássicos, modernos e contemporâneos nos auxiliar nessa questão.
Platão: “É absolutamente de um filósofo esse espantar-se. A filosofia não tem outra origem”.

Aristóteles:”É evidente que a sabedoria [sofia] é uma ciência sobre os princípios e causas.”; “…foi pela admiração que os homens começaram a filosofar…”

A. Gramsci: “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense precisamente, porque pensar é próprio do homem com tal.”

K. Popper: Falando sobre a filosofia antiga: “A única explicação parece ser que o próprio fundador da escola tenha desafiado os seus discípulos a criticarem sua teoria e que eles tenham transformado esta nova atitude crítica de seu mestre em uma nova tradição”.

Para Gerd Bornheim, pensador brasileiro a Filosofia é:“O resultado da atividade da razão humana que se defronta com a totalidade do real”.

Para Battista Mondin, pensador italiano:“Um conhecimento, uma forma de saber e como tal, tem sua esfera particular de competência; sobre esta esfera busca adquirir informações válidas, precisas e ordenadas.”

Marilena Chauí, Pensadora brasileira define os traços da atividade filosófica como: “Tendência à racionalidade… Recusa das explicações estabelecida… tendência à argumentação e ao debate para oferecer respostas conclusivas para questões… Capacidade de generalização.” E destaca que a filosofia é: “Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas.”.

Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins (Professoras brasileiras) em Filosofando: Introdução à filosofia afirmam que:“…A filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, no sentido de que questiona o saber instituído.” Maria Lúcia de Arruda Arranha e Maria Helena Pires Martins indicam em Temas de Filosofia que:“ Ela é, antes de mais nada um modo de se colocar diante da realidade, procurando refletir sobre os acontecimentos a partir de certas posições teóricas. Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um horizonte amplo”. (Temas de Filosofia, Aranha).

Antônio Xavier Teles afirma que:“…A atividade filosófica mais importante consiste no esforço sincero e na procura inteligente de soluções para os problemas que afligem a época em que vivemos… O interesse primordial da filosofia é com os problemas não resolvidos.”.

Arcângelo R. Buzzi indica que (Pensador brasileiro):“Subjetivamente a filosofia consiste no esforço de avivar a luz natural permanente ao nosso ser. Recordar a sabedoria da vida não é acumular informações eruditas nem muito saber. É voltar-se para a luz que já somos. É a arte de pensar por nós mesmos. É um pensar autocorretivo, que investiga a si mesmo com o propósito de pensar melhor.”

A filosofia para Agostinho José Soares (pensador brasileiro):“…na antiga Grécia. preocupava-se com os princípios primeiros de nossa existência e da realidade total (In: V.V.A.A, Introdução ao Pensamento Filosófico).…A cada conclusão no exercício filosófico , corresponde a uma nova dúvida, e a cada dúvida um problema. Portanto, refletir filosoficamente é refletir extensa e intensamente”. “…Quando pensamos refletidamente (pensar é agir interiormente, operacionalizar internamente) estamos fazendo filosofia” .... “Então quando é que fazemos reflexão filosófica? Será quando nossa reflexão for radical (buscar a origem do problema), crítica (colocar o objeto do conhecimento em um ponto de crise) e total (inserir o objeto da nossa reflexão no contexto do qual é conteúdo)”.

Para Maura Iglésias (pensadora brasileira) na introdução do texto Curso de Filosofia apresenta breve exposição indicando: “Filosofia é uma palavra de origem grega (Philos = amigo; Sophia = Sabedoria) e em sentido estrito designa um tipo de especulação que se originou e atingiu o apogeu entre os gregos, e que teve continuidade com os povos culturalmente dominados por eles: Grosso modo, os povos ocidentais” (Rezende). A mesma autora retrata, destacando o pensamento de Aristóteles, como características do “saber filosófico: 1- É um saber de ‘todas as coisas’, um saber universal, num certo sentido nada está fora do campo da filosofia; 2- É um saber pelo saber, um saber livre e não um saber que se constitui para resolver uma dificuldade de ordem prática; 3- É um saber pelas causas; o que Aristóteles entendo por causa não é o que nós chamamos por esse nome, de qualquer forma, saber pelas causas envolve o exercício da razão, e esta envolve a crítica: o saber filosófico é, pois um saber crítico”. (Rezende)


Gianfranco Morra (pensador Italiano) destaca que a filosofia considera “os objetos da experiência, mas não se limita à experiência ou a soma das experiências. A filosofia é muito mais um modo diverso e inconfundível de entrar em contato com a experiência, é uma tentativa de ultrapassar a experiência imediata para colher algo de maior e mais profundo” (Morra) .Morra indicando que “a experiência não pode ir além: ela é incapaz de superar o plano descritivo da imagem. É somente o intelecto – órgão do conhecimento filosófico – que pode obter, com uma abstração mental o conceito de ‘cera’, que permanece sempre idêntico apesar das transformações do pedaço de cera”. (Morra) Neste sentido considera-se que a filosofia é um “saber sintético”. “Por definição a filosofia é um conhecimento do absoluto, ainda que se tenha consciência de que o absoluto é inexaurível e todo nosso conhecimento dele, incompleto.” (Morra) Morra considera ainda que a filosofia é essencialmente um “saber crítico”, que “não possui um objeto específico”. A filosofia é crítica enquanto refuta a evidência imediata. É uma mediação crítica. Por isso ainda outro caráter: é um conhecimento desinteressado do real”.

Para Roberto Rossi: (pensador Italiano)“ …se o mundo dos outros e o nosso mundo …realidades expostas sem o poder de despertar surpresas em nós, a filosofia jamais teria nascido, nem o pensar e, consequentemente, nem a descoberta, a vontade de pesquisar, as tentativas de solução, o próprio mundo da cultura e da história humana” (Rossi). “Filosofar não é simplesmente dar uma opinião, mas fundamentar, objetiva e universalmente, as próprias teses, argumentando a partir delas, para sistematizá-las em coerência com as leis do pensamento e as averiguações experimentais“…A Filosofia fundamenta tanto o próprio conhecer como as próprias decisões práticas. Ela, na verdade, expressa no seu raciocinar, na sua reflexão, as suas argumentações, a peculiaridade da existência humana, a própria essência do homem, a sua soberania no universo. A ausência do pensamento filosófico representa a confiança exclusiva na experiência subjetiva, particular individual, interesse de cada um, na emotividade, na irracionalidade, no imediatismo. E isso torna difícil também a comunicação, fechada numa visão tacanha, sem referenciais objetivos, universais, e por isso mesmo, aptos a revelar significados nos quais todo ser humano se possa reconhecer como tal”.

Miguel Reale (pensador e jurista brasileiro) destaca que a filosofia:“…Procura sempre resposta a perguntas sucessivas …numa busca incessante de totalidade de sentido, na qual se situem o homem e o cosmos.” (Introdução à Filosofia, Reale).“A filosofia é…um conhecimento que converte em problema os pressupostos da ciência”. “Eis aí uma noção geral do que entendemos por filosofia, como estudo das condições últimas, dos primeiros princípios que governam a realidade natural e o mundo moral, ou compreensão crítico-sistemática do universo e da vida”.

Gilles Deleuze e Félix Guattari (pensadores franceses) apresentam em “O que é Filosofia?” uma definição espantosa: “A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos.” (O que é Filosofia, Deleuze). Não acreditando que a filosofia seja contemplação, reflexão ou comunicação, os autores destacam que a filosofia seja “conhecimentos por puros conceitos”  (DO SITE GEOCITIES)

Para Nietzsche, filósofo contemporâneo, “a filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas – é a busca de tudo o que é estranho e duvidoso na existência, de tudo o que foi até agora proscrito pela moral”.


Segundo Cícero, Sócrates fez com que a filosofia descesse do céu à terra e se interessasse pela vida e pelos costumes, pelos bens e pelos males. Entendia que as perguntas são mais importantes do que as respostas, entende-se então que filosofia é um constante debate, confronto de idéias (dialética).

Já Emmanuel Kant (filósofo alemão da época moderna) não podemos ensinar filosofia, mas a filosofar.
Finalizo com uma citação do Livro O Mundo de Sofia: “A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (…) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?… Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente.”

SUPERANDO A DEPRESSÃO.

Dentre as aflições comuns ao ser humano o transtorno depressivo apresenta-se com destaque na sociedade contemporânea.

A depressão é considerada, hoje, uma das mais comuns doenças da Humanidade, atingindo pessoas de todas as classes sociais e de todos os níveis culturais.

É um transtorno afetivo caracterizado por tristeza constante, dificuldade de sentir prazer, transtornos do sono e apetite. Afeta o organismo como um todo.

Os gregos chamavam essa doença de melancolia, reconhecendo que muitos indivíduos se apresentavam como incapazes de sentir alegria.

O rei israelita Saul sofria de depressão e sentia-se melhor ao ouvir as canções do pastor Davi.

Homero, em sua obra Ilíada, descreve um personagem profundamente melancólico, que se sentia vítima do ódio dos deuses, sendo por eles condenado ao sofrimento e à solidão.

Aristóteles considerava a melancolia como parte da personalidade de pessoas dotadas de genialidade.

No período da Idade Média acreditava-se que a melancolia era uma doença da alma, resultado do afastamento daquele indivíduo da fé em Deus.

No Renascimento, a idéia de que a melancolia era associada à genialidade foi retomada, surgindo até mesmo uma corrente de poetas e escritores que faziam dela o termo de inclusão naquele grupo.

Foi apenas em 1889 que um psiquiatra alemão, Emílio Kraepelim, descreveu o quadro clínico comum a muitos de seus pacientes como uma doença, chamando-a de melancolia delirante. 

O termo depressão surgiu logo depois.

No século vinte, as pesquisas médicas associaram a depressão a alterações na produção de substâncias cerebrais chamadas de neurotransmissores.

Paralelamente surgiram medicamentos para seu tratamento.

A depressão é muito diferente de uma sensação de tristeza relacionada a algum fato ou a dificuldades enfrentadas. 

A tristeza deve ter curta duração, desaparecendo com a solução de sua causa.

A depressão é caracterizada por uma sensação constante de tristeza, perda da afetividade e da alegria do indivíduo, o que o leva ao isolamento.

Pode ser causada por fatores hereditários, psicossociais e econômicos e, até mesmo, por sentimentos de culpa não resolvidos. 

É comum também em pacientes com doenças de longa duração.

Como indivíduos resultantes de uma longa trajetória de experiências adquiridas no processo evolutivo de cada um, entendemos que conflitos graves, não resolvidos, no passado, podem dar origem ao distúrbio da depressão.

O indivíduo com depressão necessita, antes de tudo, de carinho e compreensão. 

Para aqueles que convivem com o paciente depressivo o grande desafio é o de exercitar a paciência.