Elizabeth Amelio Faleiros
Psicóloga formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - FFCLRP-USP. Mestranda em Psicologia (Bolsista da FAPESP) pela FFCLRP-USP. Membro do NEPP - Núcleo de Ensino e Pesquisa em Psicologia Clínica.
Aprendendo a Ser Psicoterapeuta1
Learning to be a psychotherapist
Resumo: Este estudo investiga, na perspectiva de Jacob Levy Moreno, a concepção que alunos de Psicologia têm sobre o que é ser psicoterapeuta, quais elementos são necessários para o desenvolvimento dessa tarefa e os fatores impeditivos para realizá-la. Propõe formas de soluções para o desempenho daquela função, favorecendo a reflexão sobre a importância dessa tarefa e a responsabilidade do profissional junto ao paciente. A metodologia utilizada é a qualitativa, pois esta permite abordar dimensões da subjetividade dos sujeitos. Os resultados revelam que os alunos possuem em sua concepção os alicerces básicos, cujos indicadores são apontados por Moreno e por outros autores, percebem os requisitos básicos que constituem a essência do papel de terapeuta, evidenciam críticas realistas sobre os fatores limitadores e sugerem ações pedagógicas para minimizá-los.
Palavras-Chave: Psicoterapeuta, psicoterapia e a relação terapeuta-paciente, psicodrama.
Abstract: This study aims at investigating, according to Jacob Levy Moreno’s perspective, the conception of Psychology students about what a psychotherapist is, what elements, as basic requirements, are needed for the development of this task and the factors that may hinder the performance of this activity. The study proposes different solutions for the fulfillment of this task, providing reflection about its importance and the responsibility given to the psychotherapist when dealing with the patient. The methodology used is the qualitative approach as it allows working with different dimensions of the patients’ subjectivity. The results show that students have, as their own concepts, the basic foundations according to the indicators mentioned by Moreno and other authors. They also notice the basic requirements that compose the role of a psychotherapist, highlight realistic criticism about the limiting factors and suggest pedagogical actions in order to reduce them.
Key Words: Psychotherapist, psychotherapy and the relationship therapist – patient, psychodrama.
Desde Freud, criador do sistema psicanalítico com sua idéia pautada na conservação da energia da libido, mantendo-se constante no psiquismo e caminhando por diferentes tendências até a de cunho existencial, vamos encontrar estudos relacionados à difícil tarefa de tornar-se psicoterapeuta, de acompanhar o crescimento de outro ser humano, dificuldade essa independente das mais variadas abordagens psicoterápicas.
Neste estudo, o enfoque será o de Jacob Levy Moreno, para quem a criatividade no papel de psicoterapeuta deverá estar presente, enriquecendo-o e transformando-o.
A cristalização no papel é a conserva cultural, a estagnação, a permanência no igual, na repetição.
Supomos que alunos em formação, em sua maioria em fase final de adolescência ainda afirmando sua identidade, estariam enfrentando um processo de crescimento no papel de terapeuta, podendo experienciá-lo com maior ou menor espontaneidade2.
Ao constatar as naturais e esperadas dificuldades dessa população de futuros profissionais no convívio que vimos tendo como supervisora daqueles, mostrou ser de relevância aprofundar este tema.
A responsabilidade e complexidade da tarefa de responder terapeuticamente ao pedido de ajuda de outro ser humano justifica a necessidade de maior consciência do futuro profissional sobre a concepção a respeito do que é ser psicoterapeuta e sua implicação de ordem prática na qualidade da sua formação profissional.
Os objetivos foram: identificar a concepção dos estagiários de Psicologia Clínica sobre o que é ser psicoterapeuta, esclarecer fatores impeditivos no exercício desse papel e propor formas de possíveis soluções, proporcionar aos estagiários oportunidade de reflexão sobre a importância de sua tarefa e responsabilidade junto ao paciente, investigar as categorias espontaneidade-criatividade, na concepção daqueles, sobre o que é ser psicoterapeuta enquanto papel social a ser desempenhado por eles no contexto terapêutico.
Aproximações de um olhar sobre um mar de pensamentos
“Ser psicoterapeuta é algo de profundo, de misterioso, de sagrado. Ajudar alguém a se ver, a se conhecer, a tomar posse de si mesmo é algo que sem uma profunda humildade dificilmente poderá acontecer” Ribeiro (1986: 240).
Cresce consideravelmente o número de pessoas que busca a psicoterapia na tentativa de resolver dificuldades e alargar possibilidades de viver no mundo atual, já que há um estado permanente de mudanças fazendo com que se sintam inseguras, amedrontadas e sozinhas.
É nesse palco de turbulência que se insere a psicoterapia como mais uma possibilidade capaz de transformação individual, social e política. Assim, faz-se necessária uma reflexão sobre a dimensão do que é ser psicoterapeuta, já que este representa um forte instrumento de mudança.
Autores de renome concordam com a afirmação de Gomes (1995, p. 83) que diz:
“A prática psicoterapêutica é tradicionalmente conhecida como sendo o exercício de uma arte. O terapeuta, no contexto da singularidade de um caso, combina convicções teóricas e sensibilidade pessoal para aliviar o sofrimento psicológico de alguém”.
Independentemente do método adotado, a figura do terapeuta é sempre de grande importância, não só pelo papel que desempenha, mas também pelo simbolismo de que sua função se reveste. Porchat (1982,pp.124-125) faz referência a essa idéia falando de um dos aspectos da situação psicoterápica, o vínculo terapêutico.
“...o terapeuta parece ser, no início, um símbolo para o paciente; ele representa ajuda, não importa o modo como espera ser ajudado.
Essa relação dual que se esboça no mundo interno do paciente desde que ele se propôs iniciar uma psicoterapia já nos conduz aos dois aspectos fundamentais presentes no fenômeno vínculo terapêutico. Por um lado essa relação estará enraizada na realidade: o terapeuta é uma figura física, que se expressa, é uma pessoa real. Por outro, antes mesmo de o paciente conhecê-lo, ele ‘existe’ enquanto expectativa, enquanto ansiedade, esperança, no mundo interno do paciente. Então, antes mesmo de o paciente ter um terapeuta real,ele o tem em seu mundo de fantasia, a seu próprio modo, de acordo com suas necessidades emocionais, de acordo com suas fantasias”.
E Moreno (1974, p. 84) acrescenta:
“A esperança de um herói-terapeuta é, freqüentemente, a causa estimulante que marca o início do tratamento do paciente. Essa esperança se origina de sua necessidade de auxílio e libertação e nem sempre pode ser satisfeita pelo terapeuta. O terapeuta não é um mágico, um curador divino, mas sim um homem”.
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1 Esta pesquisa faz parte da Dissertação de Mestrado apresentada em novembro de 1999, como requisito para obtenção do título de Mestre em Saúde Mental da Universidade Católica de Pelotas, RS.
2 Espontaneidade: do latim “Sponte”- de livre vontade. No sentido moreniano, é a capacidade de o indivíduo adaptar-se adequadamente a novas situações ou dar respostas novas a situações já vividas.
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